domingo, 27 de maio de 2012

ÂNSIA



Essa verdade que singra a doer,
Principia no primeiro voo dos pássaros,
Quando deus, de infinitos,
Resvalou palavra
Ao coração do homem:
- Haja amor!

Uma gota salivada de verso pousou-nos
Em estágio de silêncio puro.

As andorinhas pairaram extáticas
E o humano sentiu o angustiar dos sentidos,
A ânsia do todo, a rutilância do oposto.

E homem e mulher se entrelaçaram sobre o encalço das pedras,
À sombra das árvores,
A esmo do medo,
Sob o olhar indecifrável de deus.

Nara Rúbia Ribeiro

AO POBRE



Tens apenas duas moedas
E a miséria te abate?
Compra um pão,
Com a moeda primeira.

Com a segunda,
Compra o orvalho da noite,
A amplidão silêncio dos astros todos,
Compra os lírios que se libram
Nas hastes do infinito.

Ainda com a segunda moeda,
Compra o sol da manhã do destino,
A dor de amor em verso curto,
A liturgia das aves,
O ritual de acasalamento da aurora das cores.

Compra o clarão de sonho da alma do infante.
Compra, e a vida, de troco,
Em troca,
Dar-te-á a essência
Das vidas de tua vida.

Nara Rúbia Ribeiro

SENTIDO



Eu quero mais é a dor de ser gente
E esse medo macabro de já não o ser.

Quero a angústia de quem sente,
Se ressente por sentir,
Mas se dói dos insensíveis.

Nara Rúbia Ribeiro

MEU REINO



Pisa o meu sorriso.
Meus dentes são ladrinhos
E levam, de sul a norte
Em meu reino
De infinitos.

Meu coração é castelo de bruma.
Ao passares por ele,
Acena silente.
Veja:
Pungente ou não
O meu peito
É um solo sem chão.

Encontrarás borboletas,
Muitas.
Cacos coloridos de sonho
Fuligens perfumadas
Verdades inventivas
De quem tanto amou e sentiu.

Verás que tudo
É tanto nada
Que perderás o medo
De adentrares em mim.

Sou pouso pobre de pardais dourados,
Passeio de andarilhos,
Luz falciforme
De altares vazios.

Nara Rúbia Ribeiro