sexta-feira, 26 de agosto de 2011

FANTASMAS

Tenho sonhado pouco.
Dormido pouco.
Pouco de mim tem comigo estado.

Visito fantasmas constantemente
E eles também me visitam
Em noites de lua clara
Ou em dias de sombria luz.

Existe uma lacuna na alma:
A palma da mão do mundo nada diz sobre o meu destino.
Desatino.

Cantarei um hino de chão e de pó,
um hino de andarilho inútil,
Um verso fraco, falho
E humildemente só.

Nara Rúbia Ribeiro

terça-feira, 23 de agosto de 2011

ALMOÇO

O livro era minha roupa.
Dele despida,
Minha emoção era nua
E eu me envergonhava de mim.

Assim era a hora do almoço, quando eu me sentia nua de sonho
E o meu sossego era ler as coisas também sem sonho
Pares comigo, naquele instante.

Via tristezas em cebolas sérias
Via silêncios profundos no vasilhame de sal.
Pensava no ligeiro lapso de alegria
Da ave que precocemente descansa,
No cozido sobre o meu fogão...

Assim,
Lendo verdades banais
De coisas cotidianas e minhas,
A vergonha era algo rápido e ameno,
Como se o vexame de minha nudez fosse invento,
Como se recoberto de poesia o meu peito estivesse
Com vestido rodado de renda e encanto
Nas entrelinhas da minha vida inteira.



Nara Rúbia Ribeiro




BORBOLETAS

Conversei com uma borboleta
E confesso ter ouvido verdades estranhas,
Carentes de aquietação.

Nota: Borboletas andam irritadiças
Por toda essa ausência entristecida de cor.
Minha mente pretoebranqueou há tempos.
Urge regressar infâncias.

As borboletas são sinos
Da capela enlutada que sou.

Nara Rúbia Ribeiro

domingo, 21 de agosto de 2011

ENLEIO

Quero uma canção
Para ninar as estrelas.
Que seja longínqua,
Pura,
Quase silente
Cuja letra balbucie
Palavras indecifráveis aos homens.

Uma canção calma
De poeira cósmica,
Envolta por partículas de esperança.
Donde o Universo realimente o sonho,
Donde o homem descrente reencontre a fé
E donde a natureza fria se enriqueça
Da seiva de uma quase divina luz.

APRESENTAÇÃO


Ao escrever-te
Sei que de mim
Nada sabes.
Sei ainda que bem pouco
Chegarás a saber.

Sou ser distante.
Ponte entre um passado parco,
Charco de orvalho,
Bolor que agasalho nos galhos do peito,
E um descaminho futuro
Que, embora falho,
Faço trilhar,
Nos trilheiros maduros de minha ilusão.

Quero apenas que leias meus versos
E saibas que existo.
E que não desprezes o tamanho nada que sou.

Sirva-te destes poemas em bandeja grosseira
E não use talher.
Versos precisam ser saboreados à mão.
E perdoa-me a inconseqüência
De buscar
No indizível chão do teu intelecto
A seiva eterninfinda
Para as raízes do meu coração.

Nara Rúbia Ribeiro