quarta-feira, 7 de novembro de 2012

ALMA POÉTICA



Ter alma de poeta é sorte incerta.
É ter o peito encharcado de ilusões e alaridos
A percorrerem o nunca vivido.

É ver a vasta solidão e aliar-se a ela
Sem perder o encantamento
Da companhia paralela.

Ter alma de poeta é fingir desalmar-se
Desamar-se,
Acumular-se de ausências e seguir sozinho,
Cultuando o cultuar
Sem ater-se a deus algum.

Ter alma de poeta é ser profeta
de uma civilização de concreção deserta,
mas povoada de “eus” amantes.

É alagar-se de instantes
E aventurar-se a voar ao encontro do sol.

Ter alma de poeta é seguir por uma reta
De pedregulhos pontiagudos
E ver os pés sangrarem descalços,
Mas nunca desistirem do passo seguinte.

Ter alma de poeta é inventar mil paixões poeirentas
E vesti-las de luzes tantas
Que capazes seriam de iluminar o grito da morte,
A sorte do fraco
Ou a saudade do que já amou e partiu.

Ter alma de poeta é ter ferida no peito aberta:
Purulenta de espanto,
Mas incandescente de eternidades.

Nara Rúbia Ribeiro

2 comentários:

Henrique Santana Santos disse...

Tradução mais pura e linda do escrever poético. Poesia é tradução do intraduzivel. É antítese por natureza. É o ato de ler um espelho. Quando li esses versos, lembrei-me da razão que me tornei poeta. Obrigado por resgatar a memória.

Nara disse...

Muito obrigada, querido Henrique Santana Santos!