terça-feira, 9 de agosto de 2011

ANÚNCIO


Estou vendendo uma margem de um rio.
Dela verás refletir,
No remanso das águas,
Teu sentimento, tua face
E até a tua obscura idéia se fará mostrar.

Ali sentirás o vento a embaraçar teus cabelos
E perceberás que cabelos alinhados já não são necessários.
Uma areia fina entrará em teus sapados
E os sapatos se mostrarão desconfortáveis e pouco úteis também.

Pouco importará que estejas vestindo ternos clássicos
Ou um bermudão surrado e uma camiseta velha.
À margem do rio, tudo que é obscuro se transformará em cura,
E as tuas ataduras se permutarão em laços coloridos.

À margem do rio ninguém estará à margem.

Todos os dias, quando me assusto com a rapidez das horas,
Com a lassidão das almas, com o preço da liberdade
Ou com a frouxidão do meu propósito,
Recorro, sem pressa, à minha margem do rio.

E quando estou ali, mesmo que me cerquem homens sisudos,
Mulheres histéricas, dias cinzentos ou sombrias verdades,
Verto de vida a artéria dos meus dias e me vejo serenar de novo.

Hoje, ofereço-te a tua própria margem do rio,
Pelo preço da atenção dispensada a estes versos.

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